segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O Monstro ainda respira

            As drogas desgraçam uma pessoa. Pelo menos é o que dizem. Hoje mesmo foi desmantelada uma fábrica de estupefacientes para os lados do Montijo, propriedade da simpática e até hoje desconhecida máfia inglesa – porque máfia que se preze é italiana, na volta era um bando de hooligans… Inacreditável como num momento delicado, delicadíssimo, da nossa economia as próprias autoridades nacionais inviabilizam investimento estrangeiro, não havendo condições propícias aos investidores quem vai agora meter dinheiro nesta pocilga? Deveriam ter metido umas taxas sobre a cannabis e aquilo ainda rendia uns valentes cobres. Legalizavam, legalize it!, e informavam o pessoal sobre a coisa, ao bom estilo do tabaco… aquilo até deve ter sido mais pelos odores, talvez usassem a droga como ambientador, afinal aqueles lados são meio nauseabundos.

            As drogas eram apenas um artifício para chegar ao busílis da questão… aos 37 anos, entra a cinco minutos do fim e, naturalmente, decido o encontro. Aos longos dos anos tive o prazer de observar vários avançados no meu clube… Domingos, Kostadinov, McCarthy, Lisandro, Derlei, Falcao, a nível internacional Ronaldo (O Fenómeno) e Ronaldo (O Papa Tudo), Nistelrooy, Weah, Raúl, Shevchenko, Henry, Batistuta, Inzaghi, Romário, Salas, Yorke, Larsson, Drogba, Rooney, Bierhoff, Vieri, Eto’o… enfim, e mais uma patada deles, mas poucos reconhecem o talento de um dos melhores, ou mesmo do melhor. Não era senhor de grandes correrias, mas para quê correr quando se sabe onde a bola vai estar? Não era jogador de muitas fintas, mas porque raio haveria de ser se não precisava delas para resolver jogos? Alguns chamaram-lhe tosco, muito injustamente. Esses não percebiam ou não percebem nadinha da poda. Está para nascer alguém com tão apurada capacidade de finalização…

            De Dragão ao peito realizou 125 jogos, marcou 130 golos. Na longínqua época de 2001/2002 marcou 42 golos em 30 presenças, representava então o Sporting. No clube leonino os seus números são: 62 encontros, 67 golos. Em solo turco, ao lado de Hagi, Popescu, Emre Bezologlu, Okan, Hasan Sãs, Taffarel, naquele que terá sido possivelmente a melhor Galatasaray de sempre, marcou 22 golos em 24 partidas disputadas. Foi na Turquia que conquistou os títulos mais relevantes da sua carreira, a nível colectivo – uma Taça UEFA e uma Supertaça Europeia, final onde despachou o Real Madrid com dois golos no bucho. Não importava com quem aparecesse à sua frente, Barcelonas, Milões, Bayers, Reais Madrids… aviava-os todos, de igual maneira. Fazia chapéus de cabeça, com o pé direito, com o esquerdo, fuzilava guarda-redes com pontapés fulminantes de fora da área, matava cruzamentos no peito e, sem que a bola tocasse no solo e num dos seus movimentos característicos, fazia levantar estádios com pontapés fulminantes, vi-o encostar inúmeras vezes à boca da baliza, lembro de cabeceamentos para todos os gostos e feitos, gestos geniais de um predestinado…

            Incompreensivelmente nunca jogou num dos tubarões do futebol, e talvez por isso caiu em depressão – porque seria uma injustiça atribuir os lamentáveis últimos anos da sua carreira somente ao consumo de droga. Diziam que o seu estilo de jogo não encaixava numa dessas grandes equipas… diziam que essas equipas não poderiam ser montadas em função de um jogador… tretas. Ele apenas precisava de alguém que soubesse cruzar uma bola decentemente, alguém que fizesse um passe em condições. Mesmo que fosse necessário montar a equipa para o jogador – algo que nunca acontece, uma equipa será sempre de 11 –, exagerando… o homem merecia, a equipa ganharia com isso.


            Neste fim-de-semana marcou mais um, infelizmente ao serviço do Cherno M. Varna, da Bulgária. Merecia mais, teve imensa culpa no seu destino. Quando acabar a carreira, se acabar algum dia – de um jogador épico espera-se tudo –, alguém pegue no homem e o inclua na estrutura de um clube. Tem muito para ensinar, até pela sua experiência de vida poderia ser uma mais valia. Imagino-o a ensinar outros avançados, “é assim que se faz o gol, cara”, por exemplo.

            Presto assim uma sentida e melancólica homenagem ao melhor jogador que alguma vez vi, certamente ao que mais gostei de ver jogar:     

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